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Serra Pelada: História de esperança e de sonhos infinitos

O "formigueiro humano" foi fechado em 1990

Data: 06/03/2024
Foto: Reprodução

O "formigueiro humano" foi fechado em 1990, e comportou mais de 100 mil garimpeiros, que extraíram mais de 42 tonelada de ouro do local. O ano de 2024 marca os 34 anos do fechamento do garimpo de Serra Pelada, e o que um dia já foi um “formigueiro humano”, hoje  não passa de um lago – com cerca de 200m de profundidade – contaminado com grandes quantidades de mercúrio. O lago que um dia foi o maior garimpo a céu aberto do mundo é, hoje, um grande lago, com cerca de 24 mil m² e 200m de profundidade – Foto: Vinícius MoraesO caminho para a Serra Pelada é uma estrada de terra, cercada pela vegetação, cuja viagem dura cerca de 40 minutos a 1 hora de carro – Foto: Vinícius Moraes A atividade garimpeira, fortificada no período de corrida do ouro – entre 1980 e 1992 –, mobilizou mais de 100 mil garimpeiros de todos os lugares do Brasil, que extraíram mais de 42 toneladas de ouro da região, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). No entanto, o sonho de mudar de vida logo encontrou diversos obstáculos. Assim que a primeira pepita de ouro foi encontrada no fim de 1979, na fazenda de Três Barras, cerca de 30 mil pessoas chegaram em uma “primeira onda” de garimpeiros. A gruta logo se tornou propriedade do governo federal – à época mergulhado na ditadura militar –, e era comandada por Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió, que daria nome à cidade onde está a Serra Pelada: Curionópolis. Assim, o ouro encontrado deveria ser vendido aos cofres públicos, o que teve como consequência a criação de “mercados paralelos”. Os garimpeiros ainda enfrentavam a malária e os constantes acidentes, como soterramentos e quedas de barracos – estruturas frágeis e rudimentares onde os homens residiam –, o que ceifou a vida de diversos deles. Mais de quarenta anos depois que foi encontrada a primeira pepita de ouro, ainda existe esperança no coração de Serra Pelada.

O início e fim de um sonho 

Francisco da Silva Soares – que hoje mora na entrada da estrada que vai para a Serra Pelada, na PA-275, entre os municípios de Curionópolis e Eldorado do Carajás – está na região há cerca de 30 anos. Natural de Governador Archer, no Maranhão, chegou no início das minerações, com a febre do ouro. Ele conta que o primeiro sentimento que teve ao chegar na gruta onde era realizado o garimpo foi o medo. Ao chegar no local, a primeira visão que se tinha eram os homens a 110 metros de profundidade, que pareciam formiguinhas àquela distância. O medo, no entanto, foi passando ao longo do tempo. A visão diária da cratera fazia parecer tranquilo subir e descer escadas de três a cinco metros de altura junto de outros garimpeiros. Francisco conta, animadamente, histórias sobre sua época de garimpeiro, ele relata os episódios de barreiras de 20 a 30 metros que caíam e levavam vários de seus companheiros, o que levou o Major Curió a mandar policiais federais para a área, que ficaram encarregados de garantir segurança, mas também impediam que os garimpeiros levassem consigo o ouro. Dessa forma, alguns trabalhadores que naquela época conquistaram ouro e reinvestiram na Serra Pelada com o objetivo de bamburrar – ficar ricos da noite para o dia – acabaram perdendo tudo.

Do garimpo à cozinha 

Entrando em Serra Pelada e se dirigindo à parte central da cidade, nos deparamos com o Restaurante Vitória, administrado pela simpática Dona Maria, natural de Imperatriz, no Maranhão. Chegando ao coração da cidade, nos deparamos com o Restaurante Vitória, muito conhecido na região – Foto: Clein Ferreira Ela conta que chegou na região em 1981, junto de seu marido, que era garimpeiro. Na época, mulheres não poderiam entrar na Serra Pelada, então ela ficou no Município de Eldorado do Carajás trabalhando com a venda de comidas, até que, em 1986, as mulheres tiveram a permissão de entrar na vila. Dona Maria lembra que se mudou no dia 14 de junho daquele mesmo ano, e logo começou a trabalhar com comércio, além de tentar encontrar ouro. Seu marido registrou um barraco no nome dela, e ela conta que ia à noite, quando levava café para os colegas e pegava uma porção de terra para garimpar.

 




Por: Folha de Carajás

jornal@folhadecarajas.com


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